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08/03/2012

Mulher de vítima presta depoimento a delegado



Delegado de Homicídios, Marcos Vinícius dos Santos, assumiu a investigação ontem
O delegado de Homicídios Marcos Vinícius dos Santos foi nomeado delegado especial para investigar a autoria do atentado contra o soldado da reserva da Policia Militar do Rio Grande do Norte, João Maria Marques da Silva, que encontra-se internado e em coma induzido no Centro der Recuperação de Operados (CRO), no Hospital Walfredo Gurgel.
A mulher da vítima foi a primeira testemunha a ser ouvida, na tarde de ontem, com um depoimento que começou em sua casa, o local da tentativa de homicídio, no conjunto da Cohab, por volta das 14h30 e só terminou às 18 horas na Delegacia de Polícia de Goianinha. A vítima, o soldado da reserva da PM, é um dos  responsáveis das denúncias de um mensalão que resultou na prisão, em dezembro, do prefeito e vereadores de Vila Flor, a 80 quilômetros de Natal, na região Agreste.
Marcos Vinícius dos Santos disse, com base na oitiva da mulher do soldado, a qual foi orientada pelo delegado a não dar mais entrevistas a jornalistas a fim de não prejudicar com suas declarações o andamento das investigações, que apenas dois homens entraram na residência do soldado João Marias Marques da Silva, um encapuzado e outro, como se diz no jargão policial, "de cara limpa", sem estar usando nada para encobrir o rosto.
Santos afirmou que a mulher ainda "se encontra muito transtornada e bloqueada" e embora tivesse aberto a porta de casa para atender o chamado dos bandidos, que chegaram perguntando pelo marido, ela não soube quem atirou na vítima, se os dois ou apenas um. Ela contou que estava em casa com dois dos quatro filhos do casal e que viu um dos autores do atentado portando uma espécie de espingarda, mas que não tinha como adiantar mais nada por conta da aflição.
Posteriormente, segundo o delegado, ela deverá de novo ser ouvida depois que estiver mais calma, assim como ele pretende ouvir as pessoas que prestaram socorro à vítima, além dos vizinhos, mesmo que tenham demorado a atender o pedido de socorro da mulher dele, porque se trancaram em casa com medo da reação dos bandidos.
Segundo o delegado, não se sabe ao certo quantas pessoas participaram da ação ou quantos ficaram dando cobertura dentro de um carro escuro, que ninguém soube confirmar qual era cor, porque o crime ocorreu à noite, por volta das 20h30 da segunda-feira, dia 5.
Uma perita do Instituto Técnico e Científico de Polícia (Itep) chegou às 16h35 de ontem para realizar a perícia e os levantamentos de praxe no local do atentado, o que só não foi feito no dia seguinte ao crime porque não havia ninguém na residência para abrir o portão e permitir a entrada da equipe técnica do Itep.
O delegado admitiu que, tão logo a mulher da vítima esteja em melhores condições de falar, pode ser que seja realizado o retrato falado do criminoso. Ela disse que não conhece o bandido que não estava encapuzado.
Santos disse que está só começando as investigações e, por isso, não deve  concentrar sua linha de investigação que ligue o atentado às denúncias feitas por João Maria Marques da Silva a respeito de um "mensalão" na prefeitura para beneficiar vereadores de Vila Flor. Ele vai levantar toda a vida da vitima, que também teria outros inimigos em virtude de outras denúncias.
Instalação da Cei é incerta devido à maioria ser oposição
Também autor das denúncias do "mensalão" de Vila Flor, o vereador Floriano Felinto, 38 anos, confirmou que, hoje à noite, fará um pronunciamento na sessão extraordinária da Câmara Municipal de Vila Flor, a respeito da insegurança e do medo que tomou conta da cidade em virtude das denúncias de corrupção contra o prefeito afastado do cargo Grinaldo Joaquim de Souza e seis dos nove vereadores que compõe o Poder Legislativo.
Floriano Felinto ainda confirmou que pretende, realmente, requerer à mesa diretora da Câmara a criação de uma Comissão Especial de Investigação (CEI) para investigar, principalmente, os contratos de limpeza urbana de Vila Flor, que foi o alvo principal das denúncias feitas ao Ministério Público.
"Nós vamos continuar cobrando transparência da administração municipal", disse ele, com relação ao mandato do vice-prefeito Manoel de Lima, que assumiu o cargo de prefeito de Vila Flor.
Felinto explicou que vai aguardar a volta das férias do promotor titular da Comarca de Canguaretama, para solicitar orientação quanto à criação da CEI, já que a bancada da oposição tem uma maioria apertada na casa, cinco vereadores, contra quatro da situação.
Além disso, ainda existe dificuldade política dentro da Câmara, porque a presidência da Casa está a cargo do vereador Pedro Francisco da Silva, que também está sendo investigado. Outro fato é que um dos suplentes de vereadores que assumiram os mandatos em função do afastamento de outros vereadores, José Joaquim de Souza, que é irmão do prefeito afastado. Para se criar uma CEI é necessária a assinatura de pelo menos dois terços dos votos dos vereadores, ou seja, seis.
Para que os cinco nove vereadores fossem empossados, em 1ª de março, Felinto conta que teve que recorrer a um mandado de segurança para assegurar os mandatos dos suplentes, entre os quais os vereadores Carlos Antonio, Edimê Maria Viana e Ana Alice da Cruz.
Memória
A "Operação Mensalão da Vila" foi deflagrada em 19 de dezembro do ano passado, uma segunda-feiram, pela Procuradoria Geral da Justiça e com o apoio do Grupo de Atuação Especializada de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) e da Polícia Militar do Rio Grande do Norte.
Na ocasião foram expedidos e  cumpridos 19 mandados de busca e apreensão, e nove mandados de prisões preventivas de pessoas supostamente envolvidas em crimes de corrupção e contra a administração pública, devidamente expedidos pelo desembargador Dilermando Mota.
A deflagração da "Operação Mensalão da Vila" ocorreu cinco meses depois de investigação e contou com a colaboração do vereador Floriano Felinto, que denunciou o esquema de pagamento de vantagens indevidas a seis vereadores em troca de apoio político ao então prefeito Grinaldo Joaquim de Souza.
Os vereadores eram pagos para aprovar projetos de lei de interesse do prefeito, além de receberem benesses como fornecimento de combustível e oferta de empregos na prefeitura.
O processo judicial contra o prefeito afastado, seis vereadores e ex-gestores públicos, corre em segredo de Justiça.

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