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05/06/2012

MP quer investigação de mortes de mãe e filho

Paulo Ricardo, marido de Rosicleide Ribeiro, entrará na Justiça pedindo apuração de responsabilidades
O Ministério Público Estadual pedirá que se proceda uma investigação criminal sobre as mortes de Rosicleide Ribeiro Souza dos Santos, 29 anos, e do seu filho; ambas ocorridas durante o trabalho de parto na quinta-feira da semana passada. O MP informou que acompanha a problemática de forma macro através do desenho da rede materno-infantil e vai provocar os órgãos responsáveis para apurar a situação real com relação ao óbito da gestante e da criança. Também provocará a Promotoria de Investigação Criminal para que se proceda uma apuração no âmbito criminal, junto à delegacia competente.
Sobre a cama de casal, chupetas, potes de talco e roupas estão espalhadas. Tudo já estava preparado para a chegada do quarto filho de Rosicleide Ribeiro. No entanto, a alegria do nascimento deu lugar ao luto das mortes da mãe e do filho que viria. Rosicleide peregrinou por atendimento na quinta-feira da semana passada e acabou morrendo por falta de atendimento adequado. Na casa de número 473, na Travessa Santo Antônio - bairro das Rocas -, a tristeza e a revolta se juntam para se buscar Justiça. Parentes reúnem documentos para garantir que o caso seja investigado e os responsáveis, punidos.
Nas mãos de Paulo Ricardo França de Souza, 26 anos, estão os documentos e exames realizados um dia antes das mortes de Rosicleide e seu filho. O cartão do posto de saúde aponta um pré-natal realizado sem transtornos; tudo encaminhado para o nascimento do bebê. "Ela não tinha problema de pressão alta, não tinha problema com nada. Deixei ela para ter o nosso filho e voltei para casa para pegar as roupas. Quando voltei, os dois já estavam mortos", relatou o vendedor de peixes, Paulo Ricardo.
"Queremos que os responsáveis apareçam para dizer porque isso aconteceu. Com certeza houve negligência e isso acabou na morte da minha mulher e do meu filho", disse em um tom que misturava angústia e tristeza. Parentes e vizinhos também cobram que o caso tenha um esclarecimento por parte das autoridades. "Ninguém esperava que isso acontecesse. Ela não tinha doença nenhuma", acrescentou Maria de Souza, 73 anos, mãe de Paulo Ricardo.
Ontem pela manhã, à reportagem da TRIBUNA DO NORTE, Paulo Ricardo garantiu que entrará na Justiça para que alguém seja responsabilizado. "Passei a manhã fazendo cópias de documentos e vou apresentá-los ao advogado. Queremos Justiça acima de tudo", afirmou. Os outros três filhos de Rosicleide nasceram de parto normal, sem complicações: duas meninas, de 14 e 9 anos, e um menino de dois anos e oito meses.
Na quarta-feira passada, Rosicleide se dirigiu à maternidade Januário Cicco. De acordo com relato de familiares, ela já havia ultrapassado os nove meses de gestação, mas foi informada de que ainda deveria aguardar. Na quinta-feira passada, com fortes dores, procurou novamente a maternidade e teria sido encaminhada à Unidade Mista de Saúde de Felipe Camarão. "Ninguém da maternidade acompanhou ela. Estava com a Rosicleide o tempo todo e não vi isso. Jogaram ela de um canto para outro", disse Djane Amorim de Souza, vizinha da família.
Djane contou que, quando já estavam na Unidade Mista, perceberam que o procedimento de alto risco não poderia ser realizado lá; não houve mais tempo para transferência. "Só fizeram a cesárea quando o bebê já estava morto. Foi um erro de procedimento médico, que devia ter atendido antes. Um absurdo", disse Maria da Silva.
Cremern aguarda manifestação da família
O Conselho Regional de Medicina (Cremern) aguarda ser informado do caso por parentes da vítima para dar início às apurações. A partir daí, de acordo com o presidente da Cremern, Jeancarlo Cavalcante, será aberta uma sindicância com intuito de se verificar se houve imprudência, imperícia ou negligência dos profissionais. "Ainda não conhecemos detalhes desse caso, soube apenas pela imprensa. A partir da manifestação na Corregedoria, poderemos dar início a uma sindicância", informou. Outra forma de se investigar o procedimento médico adotado é através de ofício ao Departamento de Fiscalização da Cremern.
A partir da abertura da possível sindicância, os médicos envolvidos no atendimento serão chamados a prestar esclarecimentos. "Se, por acaso, for constatado que houve negligência na gestão da saúde, elaboramos uma representação e a enviamos ao Ministério Público", acrescentou Jeancarlo Cavalcante.
Esclarecimentos
Ontem, o diretor da Maternidade-escola Januário Cicco, Kléber Morais, informou que aguarda informações do laudo de Serviço de Verificação de Óbito (SVO), para maiores esclarecimentos. O SVO funciona em prédio anexo ao Hospital Giselda Trigueiro e estima-se que leve 15 dias para que os materiais coletados possam ser analisados e transcritos para o laudo.
Durante a semana passada, a diretora clínica da unidade, Maria da Guia de Medeiros Garcia, esclareceu o procedimento realizado. Ela havia informado que a paciente chegou bem àquela unidade de saúde na quarta-feira, dia 30. Maria da Guia Garcia disse que nesse mesmo dia, inclusive, foi realizado um exame de cardiotocografia, que mostrou que o bebê estava bem, enquanto a paciente estava com a pressão arterial dentro da normalidade "e nem estava em trabalho de parto".
"A médica que estava de plantão fez todas as recomendações", afirmou a diretora clínica da maternidade, com relação ao fato de que se perdesse líquido ou sentisse alguma contratação também voltasse àquela unidade de saúde.
Segundo a diretora, a previsão do parto de Rosicleide de Souza era 27 de maio e na quinta-feira (31) à tarde, quando ela voltou para a Januário Cicco, realmente se encontrava em trabalho de parto normal, e não se tratava, então, de um caso para a maternidade, que "trata, prioritariamente, de mulheres com gestação de alto risco".
Na semana passada, a TRIBUNA DO NORTE também ouviu a diretora da Unidade Mista de Saúde de Felipe Camarão - para onde Rosicleide foi encaminhada. "Aqui nós prezamos muito pelas nossas pacientes e não houve erro médico", afirmou a diretora da unidade de saúde, que não faz cirurgias cesarianas e realiza apenas parto normal. "Tudo que tinha de se fazer de urgência aqui, foi feito", finalizou a diretora.
 
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