Paulo
Ricardo, marido de Rosicleide Ribeiro, entrará na Justiça pedindo
apuração de responsabilidades
O Ministério Público Estadual pedirá que
se proceda uma investigação criminal sobre as mortes de Rosicleide
Ribeiro Souza dos Santos, 29 anos, e do seu filho; ambas ocorridas
durante o trabalho de parto na quinta-feira da semana passada. O MP
informou que acompanha a problemática de forma macro através do desenho
da rede materno-infantil e vai provocar os órgãos responsáveis para
apurar a situação real com relação ao óbito da gestante e da criança.
Também provocará a Promotoria de Investigação Criminal para que se
proceda uma apuração no âmbito criminal, junto à delegacia competente.
Sobre a cama de casal, chupetas, potes
de talco e roupas estão espalhadas. Tudo já estava preparado para a
chegada do quarto filho de Rosicleide Ribeiro. No entanto, a alegria do
nascimento deu lugar ao luto das mortes da mãe e do filho que viria.
Rosicleide peregrinou por atendimento na quinta-feira da semana passada e
acabou morrendo por falta de atendimento adequado. Na casa de número
473, na Travessa Santo Antônio - bairro das Rocas -, a tristeza e a
revolta se juntam para se buscar Justiça. Parentes reúnem documentos
para garantir que o caso seja investigado e os responsáveis, punidos.
Nas mãos de Paulo Ricardo França de
Souza, 26 anos, estão os documentos e exames realizados um dia antes das
mortes de Rosicleide e seu filho. O cartão do posto de saúde aponta um
pré-natal realizado sem transtornos; tudo encaminhado para o nascimento
do bebê. "Ela não tinha problema de pressão alta, não tinha problema com
nada. Deixei ela para ter o nosso filho e voltei para casa para pegar
as roupas. Quando voltei, os dois já estavam mortos", relatou o vendedor
de peixes, Paulo Ricardo.
"Queremos que os responsáveis apareçam
para dizer porque isso aconteceu. Com certeza houve negligência e isso
acabou na morte da minha mulher e do meu filho", disse em um tom que
misturava angústia e tristeza. Parentes e vizinhos também cobram que o
caso tenha um esclarecimento por parte das autoridades. "Ninguém
esperava que isso acontecesse. Ela não tinha doença nenhuma",
acrescentou Maria de Souza, 73 anos, mãe de Paulo Ricardo.
Ontem pela manhã, à reportagem da
TRIBUNA DO NORTE, Paulo Ricardo garantiu que entrará na Justiça para que
alguém seja responsabilizado. "Passei a manhã fazendo cópias de
documentos e vou apresentá-los ao advogado. Queremos Justiça acima de
tudo", afirmou. Os outros três filhos de Rosicleide nasceram de parto
normal, sem complicações: duas meninas, de 14 e 9 anos, e um menino de
dois anos e oito meses.
Na quarta-feira passada, Rosicleide se
dirigiu à maternidade Januário Cicco. De acordo com relato de
familiares, ela já havia ultrapassado os nove meses de gestação, mas foi
informada de que ainda deveria aguardar. Na quinta-feira passada, com
fortes dores, procurou novamente a maternidade e teria sido encaminhada à
Unidade Mista de Saúde de Felipe Camarão. "Ninguém da maternidade
acompanhou ela. Estava com a Rosicleide o tempo todo e não vi isso.
Jogaram ela de um canto para outro", disse Djane Amorim de Souza,
vizinha da família.
Djane contou que, quando já estavam na
Unidade Mista, perceberam que o procedimento de alto risco não poderia
ser realizado lá; não houve mais tempo para transferência. "Só fizeram a
cesárea quando o bebê já estava morto. Foi um erro de procedimento
médico, que devia ter atendido antes. Um absurdo", disse Maria da Silva.
Cremern aguarda manifestação da
família
O Conselho Regional de Medicina
(Cremern) aguarda ser informado do caso por parentes da vítima para dar
início às apurações. A partir daí, de acordo com o presidente da
Cremern, Jeancarlo Cavalcante, será aberta uma sindicância com intuito
de se verificar se houve imprudência, imperícia ou negligência dos
profissionais. "Ainda não conhecemos detalhes desse caso, soube apenas
pela imprensa. A partir da manifestação na Corregedoria, poderemos dar
início a uma sindicância", informou. Outra forma de se investigar o
procedimento médico adotado é através de ofício ao Departamento de
Fiscalização da Cremern.
A partir da abertura da possível
sindicância, os médicos envolvidos no atendimento serão chamados a
prestar esclarecimentos. "Se, por acaso, for constatado que houve
negligência na gestão da saúde, elaboramos uma representação e a
enviamos ao Ministério Público", acrescentou Jeancarlo Cavalcante.
Esclarecimentos
Ontem, o diretor da Maternidade-escola
Januário Cicco, Kléber Morais, informou que aguarda informações do laudo
de Serviço de Verificação de Óbito (SVO), para maiores esclarecimentos.
O SVO funciona em prédio anexo ao Hospital Giselda Trigueiro e
estima-se que leve 15 dias para que os materiais coletados possam ser
analisados e transcritos para o laudo.
Durante a semana passada, a diretora
clínica da unidade, Maria da Guia de Medeiros Garcia, esclareceu o
procedimento realizado. Ela havia informado que a paciente chegou bem
àquela unidade de saúde na quarta-feira, dia 30. Maria da Guia Garcia
disse que nesse mesmo dia, inclusive, foi realizado um exame de
cardiotocografia, que mostrou que o bebê estava bem, enquanto a paciente
estava com a pressão arterial dentro da normalidade "e nem estava em
trabalho de parto".
"A médica que estava de plantão fez
todas as recomendações", afirmou a diretora clínica da maternidade, com
relação ao fato de que se perdesse líquido ou sentisse alguma
contratação também voltasse àquela unidade de saúde.
Segundo a diretora, a previsão do parto
de Rosicleide de Souza era 27 de maio e na quinta-feira (31) à tarde,
quando ela voltou para a Januário Cicco, realmente se encontrava em
trabalho de parto normal, e não se tratava, então, de um caso para a
maternidade, que "trata, prioritariamente, de mulheres com gestação de
alto risco".
Na semana passada, a TRIBUNA DO NORTE
também ouviu a diretora da Unidade Mista de Saúde de Felipe Camarão -
para onde Rosicleide foi encaminhada. "Aqui nós prezamos muito pelas
nossas pacientes e não houve erro médico", afirmou a diretora da unidade
de saúde, que não faz cirurgias cesarianas e realiza apenas parto
normal. "Tudo que tinha de se fazer de urgência aqui, foi feito",
finalizou a diretora.