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Um julgamento de oito semanas em Paris, sobre o acidente de 2009 com um jato da Air France que deixou todos os 228 passageiros e tripulantes mortos, chegou aos estágios finais nesta quinta-feira (27), com a companhia aérea da França e a Airbus lutando contra acusações de homicídio culposo.
Ontem (26), os promotores pediram à Corte de Apelações de Paris que reverta a decisão de um tribunal inferior que havia inocentado as duas empresas do acidente, no qual um A330 caiu no Atlântico na rota Rio de Janeiro-Paris durante uma tempestade tropical.
Investigadores franceses de segurança descobriram, após recuperar as caixas-pretas dois anos depois, que os pilotos reagiram de forma inadequada ao problema de congelamento de um sensor, o que deixou o avião temporariamente incapaz de calcular sua velocidade, antes de entrar em estol (perda súbita de sustentação de uma asa de aeronave).
Mas o julgamento se concentrou em problemas anteriores causados pelo mesmo tipo de sensor, bem como em supostas deficiências no compartilhamento de dados e no treinamento, que, segundo a promotoria, causaram indiretamente o acidente.
Em suas alegações finais, a Air France prestou homenagem às famílias das vítimas e negou as acusações de que a tripulação do voo AF447 era mal treinada para lidar com estol ou emergências em grandes altitudes. A Airbus concluiria sua defesa ainda na quinta-feira.
Os juízes de apelação devem levar meses para chegar a um veredito. Seja qual for o resultado, especialistas dizem que provavelmente haverá mais recursos, o que pode prolongar o processo por anos.
As audiências ocorreram em um tribunal com amplas janelas, palco de alguns dos capítulos mais dramáticos da história da França, incluindo os julgamentos do fantoche nazista Philippe Pétain e dos autores da tentativa fracassada de golpe militar de 1961, conhecida como Putsch de Argel.
Agora é a vez do setor de aviação do país ser colocado sob escrutínio, com duas das empresas mais emblemáticas da França lutando por sua reputação.
Em suas alegações finais na quarta-feira, o promotor Rodolphe Juy-Birmann acusou ambas as empresas de atos de negligência que levaram ao acidente e dirigiu críticas particularmente duras à Airbus, que teria fornecido informações ao tribunal a conta-gotas.
A Airbus afirmou ter feito o máximo para ajudar o tribunal a entender o acidente. O promotor pediu a multa máxima por homicídio culposo corporativo para ambas as empresas, que é de apenas 225 mil euros (US$ 260.640) cada. As empresas negaram repetidamente as acusações.
Os parentes se abraçaram após as cinco horas de alegações finais da promotoria, que alguns descreveram como catárticas, em contraste com as cenas de raiva durante o julgamento anterior.
“Em 16 anos, esta é a primeira vez que somos tratados com respeito e humanidade”, disse a presidente da Associação de Vítimas, Daniele Lamy, que perdeu seu filho no AF447.
“Em 16 anos, esta é a primeira vez que somos tratados com respeito e humanidade”, disse a presidente da Associação de Vítimas, Daniele Lamy, que perdeu seu filho no AF447.
Os promotores rejeitaram as conclusões dos investigadores civis e outros de que a tripulação simplesmente errou ao lidar com a perda de dados de velocidade. Mas para provar o homicídio culposo, eles devem não apenas estabelecer a negligência, mas também demonstrar como ela desencadeou o desastre.
Tribunal de instância inferior decidiu, em 2023, que ambas as empresas foram negligentes, mas que não havia sido estabelecido um nexo causal.
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